quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A uma inusitada "passante"

A lagarta é feia ou bonita?
Questão mais difícil não há. Muitos tendem a acusá-la de feiúra grossa (quase repugnante). Outros tantos ousam aproximá-la de uma beleza espetada (sem igual ou de estranho gosto)... Tantas cores. Controversas. Disputas. Oposições acirradas. Enquanto ela passa comendo verde nas brechas do jardim-asfalto debates intermináveis até o entardecer: inconcludências. Em todo caso, verdade seja dita: sua exuberância é inegável. Como ela trai o olhar! Hipnótica. Dialética. Movimentada pelas curvas de si. Curvas que jamais se converterão – vale dizer – às asas de uma bela borboleta. Continua bonita e feia ao mesmo tempo e num só buraco, o que é realmente incrível. Assim, de passagem...
Como pode um tal disparate?

Espiga

(Para Juliana Aggio)

No chão vê-se a sobra do sol.
Pinga.
Desliza.
Escorrega caído.

Sanfona.
Quadro-enfeite-de-faz-de-conta.
Mudo.
Não cala.
Reza.

Janela aberta. Gato na porta.
Boneca de pano.
Ai essa lada minha! A saudade é costurada em linha reta, na cintura que aperta a menina fina.
Em dia de festa o verde do babado é quiabo no prato.
Mais do que iguaria...

[Vingança saborosa]

No fim das contas, quem come quiabo frio?

Gineco

A geriatroginecologia não é uma especialização ofertada pela medicina recente. Entro e cumprimento uma luva. No atoconsultório paga-se em dinheiro. Cartão não passa. Nada da conveniada praxe dos aventais jalecobrancos contemporâneos. Trata-se muito mais da inútil tentativa de simulacro de uma juventude de presteza dedicada à medicina uterina: cor de pele envelhecida, a mão de plástica assegurada. Vulvas para que se arreganhem sem fim e quase sem fins lucrativos e cansativos. Imaginem só! Mil cofres e cofrinhos desavergonhados, colecionando ouro branco constrangido diante dos setenta anos da higiênica, experimentada e experimental doutora Cândida Maranhão – francófona judiapaulistana, especialíssima em “díase” e biquinho!

Amor de inverter princesa

Amor de inverter princesa
nos confins do brejo
é assim: Chicotinho na mão.
De quatro,
Ao seu dispor.

Ai meu senhor!
Que[m] dirá de mim, aqui no pisa-dor?

No tranca-quarto.
A seca enche o estrado.
É preciso inverter Ocaso menina...

Qual dor. De vez,
de lado,
ele me sapo!


Versão para uma mulher barbada





Eu,
subitamente,
depois de séculos a afinar a cintura para tantas saias justas e calcinhas apertadas,
descubro existir na natureza imposta aqui de baixo derrapante uma barba de ponta cabeça.
E como se não bastasse, ainda seca, minha boceta barbada que nunca trabalhou em circo, em seu desapontar, exclama com rigidez:
Que sede porra!
Do diálogo absurdo tomo para minha brilhante conclusão de que somos todas barbadas de ponta cabeça. Versões mais ou menos relutantes e inadequadas daquela primeiríssima mulher (aquela que nada tem a ver com Eva) – a fantástica bela inusitada, a primeira de todas nós - a grande mulher barbada que trabalha nos circos.

O capeta tabaréu da fazendinha ensolarada

Vulcão dentro de mim. Ruído sem fim - rabo de serpente, ponta de alfinete.
Fugir?
Sim!
Não!
Na rabiola de um foguete
ou no tapete do Aladim?
Furacão dentro de mim. Vento sem fim - dente de leitoa, boca de garrafa.
Diga!
Não digo.
Faça!
Não faço não.
Deita!
Diabo velho responde:
deitado já estou.
Redemoinho de ti.
Curva de gibóia.
Canta.
Assopra.
Corre.
Vai embora!
Égua arriada:
corre pro rio.
Limalha é da cerca molhada.